Delator do PCC citou construção de 120 casas com dinheiro do tráfico

O crime, que resultou na morte de Gritzbach e de um motorista de aplicativo, além de ferir três pessoas, foi brutalmente executado com 10 tiros de fuzil

O delator Antonio Vinícius Gritzbach, executado em uma emboscada no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no último dia 8, entregou ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) um contrato para a construção de 120 casas de um conhecido condomínio residencial da zona sul da cidade. Os recursos para o empreendimento teriam como origem o traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, para quem o empresário confessou lavar dinheiro.

Cara Preta foi executado a tiros em 2021, no Tatuapé, zona leste da capital. Gritzbach era acusado de ser o mandante do crime. Segundo o MPSP, eles se desentenderam após o delator perder uma quantia milionária em bitcoins que pertenceria ao traficante, que também era sócio da empresa de ônibus UpBus, sob suspeita de elo com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

É no bairro da zona leste de São Paulo que se concentra a maior parte dos imóveis de Cara Preta. Gritzbach, que sempre negou ter mandado matá-lo, era corretor imobiliário na região e admitiu a venda subfaturada e em dinheiro vivo desses apartamentos para esquentar dinheiro do traficante e outros criminosos.

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Essa parte da delação premiada já serviu para que o Ministério Público aditasse uma denúncia contra aliados de Santa Fausta por lavagem de dinheiro. Há, ainda, um capítulo não esclarecido de sua delação, sobre um investimento de valor mais alto do que esses apartamentos, que giram em torno de R$ 30 milhões.

Condomínio na zona sul
Trata-se de um contrato assinado por Santa Fausta e uma fintech que pertencia ao advogado Carlos Alexandre Ballotin com o fim de capitalizar a construção de duas novas fases do condomínio Terrara, na zona sul de São Paulo. O local abriga apartamentos de classe média e casas que custam mais de R$ 1 milhão.

O contrato prevê a construção de anexos do condomínio que estão em andamento. Em um relato entregue à Justiça pelos advogados com um resumo da delação premiada, defensores de Gritzbach chegaram a mencionar que transações envolvendo construção das casas na região chegaram a R$ 180 milhões. O contrato, ao qual o Metrópoles obteve acesso, é assinado apenas por Ballotin e Santa Fausta, e datado de 2021.

O relato dos advogados é truncado e o Metrópoles apurou que esse é um capítulo da delação sobre o qual Gritzbach ainda entregaria mais detalhes. Após sua morte, investigadores ficaram com o contrato, firmado em cartório e assinado apenas por Santa Fausta e o advogado, com a finalidade de capitalizar o empreendimento, a ser erguido pela construtora responsável pelo Terrara.

A fintech usada por Ballotin hoje pertence a outro dono, que diz desconhecer o negócio. A construtora negou ter qualquer negócio com Santa Fausta e afirmou ter adquirido o Terrara de um fundo de investimentos pertencente a um grande banco.

A execução de Gritzbach
Gritzbach foi fuzilado com 10 tiros ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, após voltar de uma viagem a Maceió ao lado da namorada, Maria Helena Paiva Antunes, de 29 anos. Os assassinos foram avisados sobre a chegada do delator do PCC ao aeroporto por um olheiro, identificado como Kauê do Amaral Coelho.

Segundo a polícia, Kauê teria acionado um alarme para avisar aos assassinos o momento em que Gritzbach chegou ao saguão. O delator foi fuzilado cerca de 30 segundos após o aviso, segundo a polícia. A SSP oferece recompensa de R$ 50 mil a quem der informações que levem à prisão do olheiro.

A principal hipótese da polícia é que Gritzbach tenha sido morto pelo PCC, embora o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, tenha admitido que o envolvimento da facção não exclui a possível participação de policiais no crime.

Em uma delação explosiva, Gritzbach detalhou como a facção lavava dinheiro, além de revelar as extorsões realizadas por policiais civis. Tanto policiais civis quanto militares investigados pela força-tarefa foram afastados de suas funções.

Até o momento, no entanto, ninguém foi preso pela morte de Vinícius Gritzbach.

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