A Polícia Civil investiga um vídeo, publicado nas redes sociais, em que motociclistas aparecem puxando um homem amarrado pelas mãos. O caso, filmado em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, aconteceu na manhã dessa quinta-feira (16).
Segundo a polícia, os homens foram punidos por populares após, supostamente, furtarem cabos de energia elétrica na região. Eles foram encontrados por PMs e levados para a 30ª DP (Marechal Hermes).
O vídeo foi publicado nas redes sociais do bairro. Na gravação é possível ouvir um homem dizer “amarraram e estão levando pro Ted”. O destino não foi identificado, mas, na legenda, o post afirma que “pegaram os dois gansos roubando e, depois de desfilar com eles, deram aquela massagem”. Os dois teriam sido amarrados e arrastados pelo bairro.
Em nota, a Polícia Militar informou que agentes do 9°BPM (Rocha Miranda) foram acionados para uma ocorrência na Rua Carlos Xavier, em Oswaldo Cruz, onde “dois homens foram detidos por populares, após cometerem furtos”.
Segundo o delegado titular da distrital, Flavio Loureiro, “os condutores das motos não foram conduzidos (à delegacia), mas o caso será investigado para identificá-los”.
— Não havia testemunhas do furto, então foram colhidas as declarações e vamos instaurar um inquérito. Eles não ficaram presos, vão responder na investigação. Além de não ter testemunhas, também não tem a indicação do possível furto de cabo de energia, então seria precipitada a prisão em flagrante. Só ficariam se tivessem um grau de certeza maior do delito — diz Loureiro.
Ainda segundo o delegado, os dois suspeitos foram linchados por diversas pessoas. Um tem 35 anos e o outro 28.
— Assim que a ocorrência foi apresentada, eles foram encaminhados para a UPA. Recebemos informações de que não tiveram lesões graves, mas vão receber o encaminhamento para o IML para fazer os exames. Os dois agradeceram muito aos policiais militares por terem resgatado eles da mão dos populares — conta o delegado.
A professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Juliana Vinuto, com doutorado em sociologia e especialista em segurança pública, alerta para a gravidade do ato de “um crime tentando justificar o outro”.
— Mesmo que ele tenha furtado, os motoqueiros também estão cometendo um crime, né? Não é responsabilidade deles punir ninguém. Poderiam até, de repente, imobilizar ele e chamar a polícia. É quase uma perversão essa tentativa de humilhar a pessoa. E, considerando a história do nosso país, que até hoje a gente tem influências da escravidão, é muito chocante ver essa cena porque automaticamente nos remete a coisas que vemos em filmes históricos, em livros de história referentes ao período da escravatura — explica Juliana.
Segundo a doutora em sociologia, crimes como esse acontecem “pela falta de crença na polícia e na Justiça brasileiras”.
— Não é dessa forma que as coisas se resolvem, com pessoas que não têm o monopólio do uso legítimo da força física resolvendo, do jeito que eles acham que deve ser resolvido, esses conflitos. Isso é um problema público e não é dessa forma que ele vai ser resolvido, com indivíduos que estão tomando para si a necessidade de mediar esse conflito. Isso nunca funcionou na história da humanidade, não vai ser agora que isso vai funcionar — afirma.