
Um tatuador cego de Campo Grande, Leandro Coelho Marques, foi preso no domingo (2) por descumprir medida protetiva e é acusado pela ex-esposa, uma técnica em farmácia de 42 anos, de aplicar um golpe de R$ 80 mil através de um contrato simulado de compra de imóvel. Segundo o processo que tramita na 8ª Vara Cível, antes do casamento em 2023, Leandro teria proposto um contrato fictício de compra da casa para conseguir doações de terceiros, mas nunca pagou o valor combinado.
De acordo com os autos do processo por estelionato, após o ataque com soda cáustica e antes de se casar com a mulher, ainda em 2023, Leandro propôs a simulação do contrato de compra e venda do imóvel que pertence à técnica de farmácia para que ele pudesse receber doações.
“Necessitava desse documento fictício para supostamente comprovar a propriedade perante terceiros (potenciais doadores) e, assim, viabilizar o recebimento de auxílios financeiros”, diz parte da petição feita pelo advogado Robson Leiria Martins que atua na defesa da mulher.
O contrato foi assinado no valor de R$ 80 mil, mas para a técnica de farmácia o documento não teria nenhum valor jurídico já que seria “falso”. Ainda nos autos, o advogado descreve que, inclusive, o valor de R$ 80 mil nunca foi pago por Leandro e ele não tinha nenhuma intenção de vender o imóvel.
“O réu, de forma ardilosa e calculada, assegurou que o contrato seria meramente de fachada, desprovido de qualquer validade jurídica, que não haveria pagamento de qualquer valor e que o imóvel permaneceria, de fato e de direito, sob propriedade exclusiva da autora”, relata o documento. O casamento foi realizado com separação absoluta de bens obrigatória em setembro de 2024.
No entanto, o advogado relata que Leandro ficou com as duas vias do contrato impedindo que a técnica em farmácia tivesse acesso ao documento. O tatuador também se apropriou do imóvel para fins pessoais e, como ela o pegou com outra mulher na residência, ela a teria agredido e a expulsado da casa. Por isso, ela entrou com pedido de divórcio e solicitou medidas protetivas contra Leandro.
Dia 12 de fevereiro o juiz Mauro Nering Karloh negou a tutela de urgência e indeferiu a imissão da posse da residência para a técnica em farmácia. Porém, designou uma audiência de conciliação do caso prevista para o final do abril. A sessão será realizada de forma telepresencial e Leandro deverá se apresentar com um advogado.
De vítima a algoz – Em fevereiro de 2023, o tatuador foi atacado pela ex-mulher, Sônia Obelar Gregório, com soda cáustica no rosto. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado para a Santa Casa, onde passou por procedimentos cirúrgicos, mas perdeu a visão.
Sônia foi presa no ano passado em Curitiba, no Paraná, por força de mandado de prisão. Na ocasião, conforme o delegado Nasser Salmen, desde que a Vara Criminal de Campo Grande expediu o mandado de prisão pelo crime de lesão corporal gravíssima, a inteligência da polícia começou a dar apoio na captura. A mulher permanece custodiada na cadeia pública da capital paranaense.
Domingo, Leandro acabou sendo alvo de mandado de prisão expedido pela 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher por descumprimento de medidas protetivas. A ordem judicial foi cumprida por equipe da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
O mandado foi expedido no dia 21 de fevereiro pela juíza Adriana Lampert pela quebra da medida protetiva. Ele foi encontrado pela equipe da Deam nesse domingo e levado para sede da especializada, onde está a disposição da Justiça. No dia 7 de fevereiro, Leandro conversou com o Campo Grande News em frente à Casa da Mulher Brasileira.
Na ocasião ele havia sido detido por violência doméstica e contou que em junho de 2024 casou com uma farmacêutica de 45 anos. Ele relatou que comprou uma casa no mesmo terreno que a residência da mulher e meses depois o relacionamento terminou, porém o fato de morarem no mesmo quintal virou motivo de briga e ciúmes, na versão do tatuador.
Foi quando ele recebeu uma amiga em casa e, segundo o tatuador, a ex-companheira, não teria gostado. O caso virou confusão e foi parar na delegacia. A mulher pediu medida protetiva contra Leandro que foi deferida pela Justiça e agora toda vez que ele vai para a casa, ela chama a polícia. Na entrevista, ele chegou a relatar que não teria outro lugar para ir.