Lula e Léo Pinheiro conversaram em sítio antes de obra, diz caseiro a Moro, e imagem confirma encontro

Reprodução Imagem incluída em inquérito da PF mostra Léo Pinheiro (indicado à esquerda) e Lula (à direita) no sítio de Atibaia

BRASIL – O caseiro Élcio Pereira Vieira, conhecido como Maradona, afirmou ao juiz federal Sergio Moro nesta quarta-feira, 20, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), antes das reformas na cozinha e no lago da propriedade, custeadas pela empreiteira. O sítio era frequentado por Lula e sua família e foi reformado por empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras ao custo de 1 milhão de reais.

Segundo Maradona, que trabalha na propriedade desde 2005, quando o imóvel ainda não havia sido comprado pelo empresário Fernando Bittar, a conversa entre Lula e Pinheiro aconteceu “mais ou menos” em 2014. Arrolado como testemunha no processo da Operação Lava Jato que trata de reformas na propriedade, feitas entre 2010 e 2014, o caseiro relatou que Bittar lhe informou que Pinheiro iria até o sítio.

“Teve uma vez que o Fernando ligou pra mim que ele [Léo Pinheiro] ia para o sítio, ele foi lá, eu abri o portão eles entraram lá, reuniu lá e foram embora”, declarou. Conforme Maradona, “o presidente estava nesse dia”.

Questionado pelo procurador da República Athayde Ribeiro Costa sobre o conteúdo da conversa, o caseiro disse que não sabe. “Eu não participei, só abri o portão, eles conversaram, não fiquei por perto, não sei o teor da conversa, o que ficou decidido, o que foi falado, se foi uma visita informal, não sei”, afirmou.

Maradona relatou que a conversa não teve a participação de Fernando Bittar e envolveu também o ex-arquiteto da OAS Paulo Gordilho, e que a reforma na cozinha do sítio começou na semana seguinte a uma visita de Gordilho à propriedade. O caseiro contou ainda que o arquiteto da OAS tratou desta obra diretamente com a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva.

“Acredito que Paulo Gordilho decidiu com a dona Marisa essa parte, porque durante a semana a dona Marisa ia para o sítio e o seu Paulo Gordilho ia nesse mesmo dia que ela estava. Então ali era uma coisa que não foi tratada com o Fernando, foi uma coisa que a dona Marisa que gerenciava essa parte da cozinha”, relatou.

Mensagens encontradas pela Lava Jato no celular de Paulo Gordilho mostram como foi um encontro dele com Lula no sítio, no início de 2014.

“Bebemos eu e ele uma garrafa de cachaça da boa Havana mineira e umas 15 cervejas”, detalhou o arquiteto sobre a reunião a um amigo no WhatsApp. A princípio, o encontro tinha como objetivo “dirimir dúvidas do casal Lula” em relação à reforma que seria feita na cozinha gourmet da chácara. Em seguida, ele afirmou que ficou de se encontrar com Marisa Letícia naquela semana para “tirar umas ideias dela”.

Em outro diálogo, desta vez com Léo Pinheiro, Paulo Gordilho se referiu a Lula como “chefe”, e a Marisa, como “madame”. “O projeto da cozinha do chefe está pronto. Se (puder) marcar com a Madame, pode ser a hora que quiser”, escreveu o arquiteto.

Em depoimento a Moro na semana passada, o encarregado de obras da OAS Misael de Jesus Oliveira afirmou que Lula cobrava a conclusão da obra no lago do sítio por meio de “recados” de Maradona. “A primeira-dama me pediu diretamente algumas coisas. O presidente, só através de recados. Ele nunca chegou para mim para pedir nada (…) Ele [Maradona] falava: o presidente tá perguntando quando vai ficar pronto o lago, quando que vai mexer no lago, o que está acontecendo no lago.”

Ao juiz federal, o caseiro disse que Lula nunca lhe pediu qualquer favor ou que transmitisse recados aos encarregados pela obra.

O processo sobre o sítio
Na ação penal referente ao sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), Lula responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no suposto recebimento de 1 milhão de reais em propinas das empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin por meio de reformas e da construção de benfeitorias na propriedade. Formalmente, os donos do sítio são os empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, amigos de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho primogênito de Lula.

O interrogatório do ex-presidente no processo foi marcado pelo juiz Sergio Moro para o dia 11 de setembro, às 14h.

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