BALBINA: O METANO DA MORTE E O CLAMOR POR JUSTIÇA AMBIENTAL E REPARAÇÃO SOCIAL – O MONUMENTO À INSANIDADE PRECISA CAIR – Por Rafael Medeiros

A Usina Hidrelétrica de Balbina, erguida no Rio Uatumã, a 200 km de Manaus, não é apenas uma estrutura de concreto; é o maior monumento à insanidade da engenharia brasileira, conforme já foi publicamente denominado. Há mais de três décadas, o que começou como uma solução energética, ignorando veementemente os alertas científicos, consolidou-se como uma tripla tragédia: econômica, ecológica e social.

Este artigo/relato testemunhal propõe um olhar incisivo sobre os 35 anos de impactos devastadores e articula, de forma urgente e baseada em evidências científicas atualizadas, um plano de ação para a reparação integral e a desativação definitiva desta usina.

  1. A Tripla Tragédia de Balbina: O Terror do Metano e a Ineficiência Crônica

A construção de Balbina revelou-se um erro colossal, expondo uma falácia energética na Amazônia: a hidrelétrica, frequentemente vista como “energia limpa”, transforma-se em uma fábrica de emissões catastróficas em regiões de baixo desnível topográfico.

Tragédia Econômica: O vastíssimo reservatório de quase 3.000 \text{ km}^2 produz uma energia pífia. Com capacidade instalada de 250 \text{ MW}, a geração média efetiva é de apenas 112 \text{ MW} (cerca de 45%), suprindo só 10\% da demanda média de Manaus. Balbina é um desperdício crônico e produz uma energia de custo altíssimo, sendo economicamente mais cara do que a termoelétrica a óleo que visava substituir.

Tragédia Climática (Ecológica): A inundação de floresta criou o “cemitério de milhões de árvores mortas” ou “paliteiros” e transformou o reservatório em um emissor brutal de gases de efeito estufa. Balbina gera 10 vezes mais gases por megawatt produzido do que uma termoelétrica a combustível fóssil. O principal vilão é o Metano (\text{CH}_4), gerado pela decomposição da biomassa afogada, que possui um potencial de aquecimento global 25 vezes maior que o \text{CO}_2 em um horizonte de 100 anos. O lago também contaminou peixes e produziu ácidos que corroem as turbinas, levando ao fechamento da pesca comercial em 1997.

Tragédia Social: Os impactos sobre os Waimiri-Atroari e as comunidades ribeirinhas foram de deslocamento, violência e abandono. O trecho a jusante sofre com a acidez da água e a morte dos peixes, tirando a base alimentar dos moradores. A Comissão da Verdade confirmou que o passivo social é “vivo” e afeta as cerca de 3.000 famílias que hoje clamam por reparação.

  1. O Alerta Científico: O Efeito Sanduíche e a Urgência da Intervenção

O estudo do INPA (Jochen Schöngart et al.) sobre o devastador “efeito sanduíche” a jusante da barragem evidencia que o dano vai muito além do lago, afetando até 125 \text{ km} do Rio Uatumã, com a perda de 12\% das florestas de igapó devido a inundações quase permanentes e secas extremas, impactando toda a cadeia trófica.
Essa ciência robusta prova que o modo de operação da usina é incompatível com a vida na bacia do rio.

  1. O Clamor de um morador do Ramal da Morena: Plano de Ação para Reparação e Desativação

Resido a 6 anos, observando, lendo e estudando vários artigos e acompanhando toda essa discussão como um atingido do Ramal da Morena, no Distrito de Balbina, Município de Presidente Figueiredo, somos as vítimas desta tragédia. Nossas vidas estão em risco social e ambiental constante. A reparação deve ser integral, digna e estratégica, pautada na desativação do “Monólito da Insanidade”.

Proposta óbvia: Um plano de três passos, com ênfase na segurança e na sustentabilidade:

PASSO 1: Realocação Imediata e Segura

Ação: Retirar e realocar imediatamente as 3.000 famílias residentes no Ramal da Morena para a parte superior na Vila de Balbina.

Justificativa: A Vila de Balbina possui altitude segura, estando antes do ponto de potencial colapso da barragem, eliminando o risco iminente. Além disso, a realocação irá revitalizar a Vila, hoje sofrendo êxodo e se transformando em um “lugar fantasma”, garantindo o direito à vida e à segurança.

PASSO 2: Subsidio, Renda e Desenvolvimento Sustentável

Ação: Implementar um programa de Renda Básica Universal (RBU) para as famílias realocadas e investir em projetos de Agricultura Familiar e Agroecologia.

Justificativa: Garantir a dignidade e a transição econômica, promovendo modelos produtivos sustentáveis, alinhados com a vocação da Amazônia, em contraposição ao modelo predatório da hidrelétrica.

PASSO 3: Desativação Definitiva da Barragem

Ação: Iniciar imediatamente os estudos e o planejamento legal e técnico para a desativação completa da Usina.

Justificativa: A desativação é a única forma de interromper a fábrica de metano e permitir a recuperação parcial do Rio Uatumã. O processo, conhecido como dam removal, embora complexo para grandes estruturas, deve ser priorizado pelo Governo Federal (como já sinalizou o Presidente Lula). A energia de Manaus deve ser substituída por alternativas comprovadamente menos poluentes e mais eficientes, como a solar flutuante e a integração de Tucuruí, com o uso de termoelétricas a gás como ponte, que são dez vezes menos impactantes para o clima do que manter Balbina ativa.

A política pública para a Amazônia deve abandonar a lógica do dano compensatório e abraçar a ciência da restauração. O caso Balbina exige uma decisão corajosa: transformar o maior erro da engenharia em um legado de justiça ambiental e resiliência.
Chega de esperar. Balbina precisa ser desativada. Nossas famílias precisam ser reparadas.

O autor deste artigo é morador do referido lugar a 6 anos.

Por Rafael Medeiros | TREZZE Comunicação Integrada

1 COMENTÁRIO

  1. Cara primeiro é uma falta de conhecimento gritante e uma loucura absurda essas idéias que não coadunam com a verdade. Gostaria de participar de um debate pra esclarecimentos.
    JERFFERSON SABBÁ 92 99472-8338

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