A Retórica Decisiva: Figueiredo desmonta as contradições de Ciro Nogueira

Caro Ciro Nogueira, talvez você não me conheça bem, mas é público meu apreço pela retórica. Num debate, o que não é dito — o subentendido nas entrelinhas e nas artimanhas lógicas — costuma ser o ponto decisivo. Cabe ao interlocutor extrair esse subtexto como o cirurgião extrai um tumor. Não coloco palavras em sua boca; apenas exponho as proposições que sua retórica contém.

Lógica, gramática e o desafio da coerência
Aristóteles já ensinou que todo símbolo linguístico é uma entidade lógica pronta para formar proposições, e é nelas que o raciocínio se move. Retórica séria exige atenção às opções que gramática e lógica oferecem; a ausência dessa preocupação é analfabetismo funcional, quando o sujeito não possui materiais intelectuais para transformar realidade em proposição. Presumo que não seja o nosso caso, e por isso trato seu discurso dentro das alternativas lógicas que ele me oferece — não para distorcer, mas para exigir coerência.

A ameaça e a contradição do regime de exceção
Disse que seu discurso soava muito mais como ameaça do que como conselho. Perguntei de quem seria essa ameaça. Como não acredito que você tenha meios para cumpri-la, só posso concluir que ela vem do regime de exceção que você insiste em negar. E aqui surge a contradição: se não existe regime de exceção, se vivemos no império das leis, por que Bolsonaro estaria ameaçado de morrer na cadeia caso Eduardo não aceite um dos candidatos que você propõe como vice? Se gozamos de normalidade institucional, um idoso com graves problemas de saúde não correria risco apenas por uma decisão eleitoral. Logo, ou estamos num regime em que a lei não é respeitada, ou em plena normalidade. As duas coisas, ao mesmo tempo, não existem.

A negação da exceção e a fuga do óbvio
É fundamental definir o pressuposto em que vamos nos mover. Se você não diagnostica corretamente o problema, como pode oferecer solução? Negar a exceção e, ao mesmo tempo, afirmar que o Supremo é obstáculo à candidatura de Eduardo é incoerência. Que política real é essa em que se foge até do óbvio?

Composição vs. Anistia: A Inviabilidade da Solução Domesticada
Entendo sua negação: admitir o regime inviabilizaria a narrativa de que a saída está em emplacar um candidato domesticado. Se estamos sob exceção, a solução não é legitimar o regime com uma candidatura tutelada, mas retirar-lhe os meios de ação arbitrária — e isso passa pela anistia ampla e irrestrita que defendemos. É justamente essa anistia que torna impossível sua proposta de solução eleitoral. Se reconhece o regime, não pode sustentar que a saída é compor com ele.

O duplipensar orwelliano: Poder Pessoal vs. Liberdade da Nação
Aqui está a diferença entre nós. Seu objetivo estratégico não é libertar o país do regime, mas compor com ele, usufruindo do poder que essa composição oferece. Você chama isso de transformação; eu chamo de cumplicidade. É por isso que atua como base do governo Lula e, ao mesmo tempo, se apresenta como aliado de Bolsonaro. Sua lealdade está na conquista pessoal, não na liberdade da nação. Eu quero destruir os meios arbitrários do regime, devolvendo as rédeas à Constituição e à ordem moral erguida pelo Criador. Você precisa negar a existência do regime ao mesmo tempo que usa as ameaças dele como moeda de barganha. É o duplipensar orwelliano em estado puro.

Nomeando o sistema e o teatro da disputa
E sequer nomeia o sistema. O PT não é o sistema. Lula tampouco é o sistema. Lula é só um peão que o regime retirou da cadeia para operar um golpe de Estado, valendo-se de seu cão de guarda — o Supremo, que você trata com deferência. Enquanto isso, finge que tudo se resume a uma disputa entre PT e Direita. Nesse cenário, você propõe como solução um candidato que proclama que com Moraes não se briga, se alia.

O apelo final: Liberdade acima dos interesses eleitorais
Meu avô sofreu calado e cumpriu seu dever para legar ao povo liberdade, não um novo grilhão. Pode me chamar de radical, mas para mim a liberdade está acima dos interesses eleitorais dos poderosos. Não conte comigo para esse teatro. Recobre a consciência e nos ajude a esmagar o regime. Primeiro, a liberdade; depois, as eleições. Faço a você o mesmo apelo que fez a outros: recobre o bom senso e ajude a libertar o país. Antes que seja tarde demais.

O que Ciro disse, leia;

Paulo, sua reflexão sobre a Venezuela em inúmeros pontos é oportuna e na essência – a resultante da ditadura – um ponto de convergência.

Sua reflexão, porém, sobre o que eu disse não parece expressar a melhor clareza nem do meu, nem do seu pensamento. Não atribuo a você o que não disse e, num debate respeitoso, espero que não coloque palavras em minha boca. Não é intelectualmente honesto. Jamais disse que vivemos numa Venezuela e nem reconheci o Brasil como uma ditadura. O que disse – e repito – é que depois de um Lula 4 poderemos ter plantado as condições históricas e políticas para uma impossibilidade completa de retorno da paridade de armas eleitoral, a primeira fase do Chavismo, com um populismo crescente, a expropriação gradual dos meios de produção, o capitalismo dos companheiros, o aumento do bolsismo, o empobrecimento do país. Não vivemos isso ainda, e é por isso que temos chance de virar esta página do presente sem ter que enfrentar um futuro medonho que hoje é a realidade da Venezuela.

Você não me conhece bem. Mas meu estado, o Piauí, é há mais de 2 décadas governado pelo PT. Nesse período, o que era para ser uma etapa se tornou um pesadelo e o meu amado Piauí estagnou e só não está pior porque durante o governo Bolsonaro, como chefe de Casa Civil, pudemos levar inúmeros avanços para o povo e eu, no Senado, já levei recursos para todos os municípios do estado. A Venezuela para mim – o controle da mídia, a cooptacao de tudo e de todos, a perpetuação no poder – não é em Caracas. É onde combato politicamente como cidadão, na minha rinha, na oposição, sem benesses, enfrentando o aparelhamento em todo o lugar. Não vivo nos palácios do Piauí. Vivo nas ruas.

Com relação ao presidente Bolsonaro, ao usar o recurso retórico de que eu estaria transmitindo uma “ameaça”, intimidação, seja lá o que seja, ao falar da minha convicção de que se não vencermos as eleições as chances de encaminharmos uma solução que possa tirar esse homem de bem da prisão e impedir que sua saúde delicada seja colocada em risco, acho que ali sua vocação de provocador como pessoa do mundo das comunicações falou mais alto do que a de debatedor equilibrado que na maioria do tempo procura expor. Não transmito ameaças nem em meu nome nem em nome de ninguém, Paulo. Assim como acredito que você não destila bravatas, nem em seu nome nem em nome de ninguém. E se tiver a humildade de pedir desculpas por essa colocação infeliz isso só o engrandecerá.

No essencial, temos sim visões distintas sobre a realidade do país: não parto do pressuposto que as suas são nem erradas nem infalíveis. O mesmo direito dou a todos em relação às minhas. Alguns acham que a Direita Raiz tem condições políticas e eleitorais de ganhar a eleição, mesmo sem ter um candidato hoje na prateleira, já que no mundo real da política, no Brasil de hoje, não teremos um sobrenome Bolsonaro candidato a presidente, a não ser que dona Michele se dispusesse ou Flávio, já que é público e notório que a ausência do deputado Eduardo do Brasil assim como as ações no Supremo são obstáculos objetivos e não teóricos no mundo da política real.

Sabemos que ele se sente inseguro de voltar ao Brasil. Mas a realidade é esta, assim como era a realidade objetiva após o Rio Centro que o presidente Figueiredo, seu avô, não podia apresentar o culpado que tanto lhe exigiam, a ponto de injustamente o acusarem de acobertar os autores, de envolvê-lo em algo que, tenho certeza, era uma ação de um grupo que não queria a redemocratização que ele, o presidente, tentava viabilizar.

Muitos radicais, na época, foram injustos e viram teorias conspiratórias e espalharam as mais degradantes insinuações contra o presidente Figueiredo. Mas estavam errados! Porque a política real, no exercício do poder real, deve sofrer influências de todas as pressões possíveis, mas deve se pautar pelo objetivo estratégico principal.

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