O Paradoxo da Segurança: como a desvalorização Policial e a “Doutorização” sabotam o atendimento ao cidadão – Por Ronaldo Aleixo

Foto: Divulgação / PC-AM

A desvalorização da classe policial no Brasil é a raiz de um problema complexo que se manifesta em condições de trabalho precárias e, invariavelmente, no atendimento deficiente à população. Essa realidade é alimentada por um ciclo vicioso de desinvestimento e falta de reconhecimento.

Fatores críticos da desvalorização

A insatisfação e a ineficiência nas forças de segurança resultam de fatores bem definidos:

Carreira estagnada e salários defasados: Os vencimentos não acompanham o nível de qualificação exigido, e a ausência de planos de carreira estruturados não reconhece a experiência ou a formação continuada. Isso desestimula a permanência, eleva a evasão e força policiais a buscarem “bicos” para sobreviver.

Insegurança e risco elevado: A carência de equipamentos modernos e a facilidade com que criminosos reincidentes são liberados pelo sistema penal (a chamada “porta giratória”) aumentam drasticamente o risco e a vulnerabilidade dos agentes.

Sobrecarga e preconceito social: O efetivo é frequentemente reduzido — agravado pela transferência de policiais para a segurança de autoridades ou funções administrativas. Soma-se a isso a crescente demonização social da figura do policial, visto como responsável pelo caos, e não como agente de combate ao crime.

A “Doutorização” e a crise da empatia

A contradição mais perversa reside na relação entre alta qualificação e serviço público. Muitos profissionais possuem mestrado e doutorado, mas esta formação acadêmica não é devidamente reconhecida ou valorizada na carreira.

Esse descompasso gera a “doutorização” do serviço público policial, uma distorção onde o servidor altamente qualificado pode desenvolver o sentimento de que o trabalho de base — o atendimento direto ao público — é humilhante ou indigno de seu currículo.

O resultado é a crise da empatia:

Distanciamento e Burocracia: O foco excessivo na teoria e na formalidade afasta o servidor do propósito essencial: o acolhimento e a resolução prática de problemas.

Mau atendimento: A ríspidez, a linguagem excessivamente técnica e a lentidão são usadas, consciente ou inconscientemente, como barreiras que transformam a alta qualificação em justificativa para o descaso.

O Drama prático: O atendimento em Delegacias

A má qualidade do atendimento é mais visível e dramática nas delegacias. Levantamentos apontam gargalos severos que transformam a busca por justiça em um calvário, especialmente para as mulheres:

Despreparo e revitimização: Atendentes que falham no acolhimento, chegando a culpabilizar a vítima que busca ajuda.

Serviço intermitente: A falta de plantões noturnos e de finais de semana compromete a resposta imediata da segurança pública.

A espera insuportável: O drama de vítimas de agressão em delegacias, como o caso noticiado em Belo Horizonte, é emblemático: são submetidas a esperas que podem chegar a dez horas para conseguir registrar uma ocorrência.

Neste cenário, denunciar a violência e obter uma medida protetiva se torna um luxo acessível apenas para quem tem tempo integral e resiliência para enfrentar a burocracia, forçando muitas vítimas, sem apoio logístico ou familiar, a desistir de buscar seus direitos.

Fiscalização é o caminho

Para romper este ciclo, a fiscalização é essencial. É crucial que a população utilize os canais formais: reclamações sobre o serviço ou fechamento de unidades devem ser encaminhadas à Ouvidoria da Polícia Civil. Isso permite que a Corregedoria e os órgãos competentes atuem na readequação do funcionamento, garantindo o respeito ao cidadão e, enfim, a melhoria da qualidade do serviço.

No Amazonas, a fiscalização das Polícias Civil e Militar pode ser realizada através de canais específicos de cada corporação, mas também está centralizada na Ouvidoria Geral do Sistema de Segurança Pública (SSP-AM) e na plataforma Fala.BR da Controladoria Geral do Estado (CGE).

A função principal de uma Ouvidoria é ser a ponte entre o cidadão e a instituição. Ela recebe elogios, sugestões, solicitações, reclamações e denúncias sobre os serviços e a conduta dos agentes. Ao registrar uma ocorrência de mau atendimento, desrespeito ou negligência, o cidadão aciona o mecanismo de controle interno das corporações.

 

Ouvidoria Geral do Sistema de Segurança Pública (SSP-AM)

Este é o canal mais abrangente, pois engloba as manifestações contra todos os órgãos vinculados à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, incluindo a Polícia Civil e a Polícia Militar.

  • Função: Receber e encaminhar manifestações que envolvam a atuação de qualquer órgão de segurança, buscando a fiscalização e a correção de falhas de serviço ou conduta dos agentes.
  • Canais de Contato da Ouvidoria Geral da SSP-AM:
    • WhatsApp: (92) 99434-9304
    • E-mail: ouvidoriadeseguranca@ssp.am.gov.br
    • Plataforma Integrada: Fala.BR (gerenciada pela CGE-AM)

 

Canais Institucionais (Polícia Civil e Polícia Militar)

Ambas as polícias mantêm canais específicos, muitas vezes ligados às suas próprias Corregedorias, para tratar de assuntos internos e denúncias:

InstituiçãoCanal e ContatoTipo de Manifestação
Polícia Civil (PC-AM)Telefone (Disque-Denúncia): 0800 280 8086Denúncias sobre crimes e sobre a conduta de policiais.
Polícia Militar (PM-AM)Canal “Atendimento ao Cidadão” no portal oficialReclamações, elogios, sugestões e denúncias sobre a atuação dos policiais militares.

 

Ronaldo Aleixo

Ronaldo Aleixo – Jornalista DRT 96423/SP

É jornalista (DRT 96423/SP), filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e ao Sindicato dos Jornalistas de Roraima (Sinjoper). Possui formação como Tecnólogo em Marketing pela Uninter-AM e é pós-graduado em Jornalismo Digital, Jornalismo Investigativo, Docência do Ensino Superior, Gestão de Mídia Social e MBA em Ciência Política: Relação Institucional e Governamental, todas pela Uninter-PR. Está cursando Direito Digital na PUCRS.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui