Segundo a reportagem do jornal norte-americano, o governo israelense inseriu cargas explosivas em um lote de pagers fabricados pela empresa taiwanesa Gold Apollo, que haviam sido importados pelo Hezbollah.
A estratégia envolveu esconder uma pequena carga de explosivos, com menos de 50 gramas, junto à bateria de cada dispositivo. Um interruptor embutido permitiu a detonação remota dos explosivos.
A operação resultou em uma explosão coordenada que, nesta terça-feira (17/9), causou a morte de pelo menos 11 pessoas e deixou mais de 2,8 mil feridos no Líbano. Os casos ocorreram em várias partes do país.
O Hezbollah e o governo libanês responsabilizaram Israel pelo ataque. Até o momento, o país não assumiu a autoria do ocorrido.
O plano
Fontes ligadas à segurança libanesa, citadas pela agência árabe Al Jazeera, indicaram que os pagers em questão foram importados pelo Hezbollah há aproximadamente cinco meses, sem que o grupo soubesse dos explosivos ocultos.
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O plano incluía uma medida adicional para aumentar a letalidade das explosões: os dispositivos foram programados para emitir um sinal sonoro pouco antes de detonar, atraindo os usuários dos pagers para manipularem os aparelhos, aumentando a chance de fatalidades.
A empresa Gold Apollo, fabricante dos pagers envolvidos no incidente, não se pronunciou sobre o ocorrido.
O que causou a explosão dos pagers?
Especialistas levantaram duas principais teorias sobre o que poderia ter causado a explosão de tantos pagers ao mesmo tempo.
A primeira sugere que houve uma violação de segurança cibernética, que teria provocado o superaquecimento das baterias de lítio dos pagers, levando à detonação.
A segunda teoria sugere que o incidente pode ter sido um “ataque à cadeia de suprimentos”, ou seja, os pagers teriam sido adulterados durante o processo de fabricação ou envio, com explosivos sendo colocados nos dispositivos.
Um membro do Hezbollah, segundo a agência Associated Press, teria relatado que os equipamentos superaqueceram antes de explodir e que os dispositivos eram de uma marca não muito usada pelo grupo.
Israelenses infiltrados teriam sabotado Hezbollah
David Kennedy, ex-analista de inteligência da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, declarou à CNN que as explosões observadas em vídeos online pareciam “grandes demais para que isso seja um hack remoto e direto que sobrecarregaria o pager e causaria uma explosão de bateria de lítio”.
Para ele, a segunda teoria faz mais sentido. Segundo Kennedy, seria mais provável que agentes israelenses, infiltrados no Hezbollah, tivessem inserido explosivos nos pagers, que foram ativados de maneira coordenada.
O ex-analista ainda ressaltou que uma operação desse tipo exigiria uma complexa rede de inteligência e a manipulação de diferentes pontos na cadeia de suprimentos.
“A complexidade necessária para fazer isso é incrível. Teria exigido muitos componentes de inteligência e execução diferentes. Inteligência humana (HUMINT) seria o principal método usado para fazer isso, junto com a interceptação da cadeia de suprimentos para fazer modificações nos pagers”, explicou.