“O Sistema Braille comemora 200 anos de história, de esperança e de superação, tudo graças a um menino francês nascido em 4 de janeiro de 1809. Ele nasceu com visão, mas com cinco anos ficou cego, na pequena cidade de Coupvray, a cerca de 45 quilômetros de Paris”, conta Gilson Mauro, gerente da Biblioteca Braille do Amazonas (BBAM) sobre o Dia Mundial do Braille, celebrado neste sábado, 4 de janeiro.
A data, que marca o nascimento de Louis Braille, criador do sistema, ressalta a importância do Braille como meio de democratização da comunicação e da plena realização dos direitos humanos entre as pessoas cegas e com baixa visão. “Luiz nunca desistiu de lutar, sempre pensando nos outros e buscando novas soluções para que todos nós cegos pudéssemos sonhar com um futuro melhor”, destaca Gilson.
Sistema de seis pontos
Aos 10 anos, Louis Braille ingressa no Instituto Real das Crianças Cegas da França, fundado pelo professor Valentin Hauy. Foi nessa ocasião que ele conheceu o capitão e inventor Charles Barbier, que lhe apresentou um sistema chamado sonografia sonora. Luiz, com sua mente criativa, refletiu sobre a ideia e, dois anos e meio depois, em 1825, apresentou ao mundo seu revolucionário sistema de seis pontos, que, na época, não era conhecido como Braille, mas simplesmente como “sistema de seis pontos”. Foi com esse sistema que ele iniciou a alfabetização das crianças cegas na escola.
Louis faleceu em 6 de janeiro de 1852, e, em 1854, a França adotou oficialmente seu sistema como o único método de leitura e escrita para pessoas com deficiência visual. Em 1878, a Unesco também reconheceu o Braille como o sistema global para a alfabetização de pessoas cegas. “O que eu escrevo aqui, posso escrever em qualquer lugar. A minha emoção é a mesma de qualquer cego no mundo”, compartilha Gilson Mauro, expressando a universalidade do legado de Braille.
Biblioteca Braille do Amazonas
Para Gilson Mauro, o Sistema Braille foi fundamental para gerar oportunidades únicas e acessíveis em sua vida. Hoje, como gerente da Biblioteca Braille do Amazonas, sua trajetória se entrelaça com a história da instituição. Com deficiência visual, ele gerencia a biblioteca desde 2000 e enfatiza o trabalho realizado em prol das pessoas com deficiência visual e as atividades culturais oferecidas pela Biblioteca, que já ganhou prêmios como o “Ser Humano Oswaldo Checcia” – prata na categoria Regional, em 2015, e na categoria Nacional, em 2016.
“O sistema Braille, para quem é cego, é um sistema que trouxe a liberdade, a igualdade, para todas as pessoas descobrirem com dois dedos, da mão direita e da mão esquerda, a liberdade de conhecer o mundo por meio de pontos e símbolos”, afirma o gerente.
Entre as obras que mais emocionam Gilson até hoje, destaca-se a do escritor Monteiro Lobato, que marcou sua infância, quando ainda tinha visão. Ele assistiu praticamente toda a série baseada nos livros de Lobato e, quando perdeu a visão, ainda acompanhava a última parte da série, em 1979.
“Quando me alfabetizei, o primeiro livro que coloquei nas mãos foi “A Emília no País da Gramática”. Eu li e chorei na biblioteca de São Paulo, pois, a cada página que virava ou personagem que encontrava, me lembrava dos momentos em que ficava sentado diante da televisão, assistindo”, relembra Gilson.
Ele ressalta a importância da leitura, como meio de nos transportar para diferentes lugares, até mesmo para dentro de uma gramática, onde aprendemos sobre substantivos e adjetivos e que, ao fazer essas descobertas, passamos a valorizar ainda mais a leitura, a vida e as emoções que ela nos proporciona.
A Biblioteca Braille do Amazonas dispõe de um acervo de mais de 50 mil obras entre livros digitalizados, livros falados, obras em Braille e filmes com audiodescrição, o espaço também disponibiliza estúdios de gravação, máquinas de escrever em Braille, computadores especiais, impressoras em Braille, scanners de voz e lupas eletrônicas.
Democratização da comunicação
A importância do Sistema Braille na democratização do acesso à informação está na liberdade que ele propicia para as pessoas com deficiência visual, permitindo que elas se sintam tão capazes quanto qualquer pessoa com visão. Um exemplo claro dessa transformação é a jovem Gabrielly Braz, que compartilha sua felicidade e realização após dois anos de aprendizado na Biblioteca Braille do Amazonas.
“O Braille para mim é muito importante, é uma libertação. Hoje, consigo ler até caixas de remédio, de mingau de aveia, de maisena… Ler em Braille é uma libertação total. Aprendi a ler quando tinha 9 ou 10 anos”, relembra Gabrielly, agora com 14 anos.
Entre os livros que mais gostou de ler, ela destaca “Estrelas Tortas” e também revela os avanços que o Sistema Braille trouxe para sua vida social, como a oportunidade de ler dois textos na Igreja de Santa Lúcia, se apresentar em teatro e até participar de uma peça de Natal em sua escola, onde leu uma fala em Braille.
Administrada pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, a Biblioteca Braille funciona de segunda à sexta, das 8h às 17h e está instalada no Bloco C do Centro de Convenções – Sambódromo (Av. Pedro Teixeira, 2565, Dom Pedro). O espaço tem o objetivo de integrar, promover e incluir pessoas com deficiência visual ao meio social, cultural, educacional e profissional, melhorando condições de vida, estudo e convivência para contribuir na elaboração de trabalhos e pesquisas.
FOTOS: Divulgação / Secretaria de Cultura e Economia Criativa