Por Lourenço Braga: 30 DE OUTUBRO

Dentro em 3 domingos, que são cinco os deste outubro, estaremos todos os brasileiros maiores de 16 anos diante da responsabilidade final de escolher os rumos que cada um pretende para o País nos 4 anos próximos. Não se trata, permita-me o leitor, de gostar ou de não gostar da pessoa desse ou daquele candidato, de sua oratória, de sua forma de vestir ou de relacionar-se com as pessoas e as coisas a seu redor, do cuidado, ou de sua falta, ao dizer o que lhe vai à mente, de preferir esse ou aquele meio de transporte para reunir correligionários ou admiradores, de seu gosto por cores, por bandeiras, enfim… Trata-se, isto sim, de examinar os programas, projetos, planos e propostas que cada um representa, ou apresenta, significando, de fato, optar pela definição da configuração do papel do Estado e de sua influência na vida das pessoas.

É que há claramente postos, e até de forma extrema, dois lados eminentemente antagônicos: o que muitos chamam de “direita”, a representar menor interferência do Estado principalmente na Economia, e o denominado de “esquerda”, que teoricamente significaria maior influência estatal na construção das condições de convivência social. Os socialistas, que alguns preferem chamar de comunistas, uns até ainda fiéis seguidores das teorias marxistas, e os liberais, que defendem o livre capitalismo. De uns e de outros há exemplos e consequências, históricos e atuais, em diferentes lugares do planeta, próximos ou distantes daqui, a permitirem ao eleitor a comparação e a preferência.

De qualquer forma, o que escolhermos majoritariamente no domingo 30 deste mês será o que viveremos no quatriênio que está por vir, a iniciar-se no primeiro dia de janeiro que se aproxima. E há que fazer, penso, opção positiva, comparecendo para o exercício do democrático direito ao voto, fundamento da democracia, e, uma vez diante da urna, digitar a escolha não entre um dos dois homens que disputam o pleito, mas entre esse ou aquele  sistema, esse ou aquele caminho desejado para si mesmo, para sua família e para a comunidade brasileira. Cada um de nós é agente positivo da definição do norte dessa bússola. O voto em branco, tal qual o nulo, perdoem-me seus adeptos, penso que em nada contribui para o futuro da história, nesta encruzilhada.

A legislação eleitoral brasileira põe à disposição dos candidatos, em todas as eleições e turnos, quando há mais de um, como agora, um período destinado à propaganda política, garantindo-lhes a liberdade de opinião, de pensamento e de apresentação e resguardando o direito à honra, à privacidade, à família, com respeito aos contendores  e reserva de caminhos legais para punição por eventuais excessos. Pode-se dizer que é o legítimo tempo de efervescência política e quanto maior a liberdade, com responsabilidade, mais amplo o conceito de democracia envolvido.

E aí estão as redes sociais, com a incrível velocidade com que se faz a comunicação entre as pessoas e a extraordinária participação dos “smartphones”, dos celulares que, com acesso à rede mundial de computadores, responsável por tantos avanços na sociedade contemporânea, fazem o mundo mais próximo de todos, dando ensejo à globalização difícil de ser imaginada no primeiro quartel do século anterior.

Há também a campanha política nos meios mais tradicionais, como o rádio e a televisão, seja por meio de inserções de mensagens ligeiras, de até 30 segundos, seja através de programas ditos gratuitos, que em eleições de segundo turno reservam tempo igual para os dois disputantes – diferente do que se dá  no turno inaugural, quando há claro privilégio para a maioria, representada por partidos ou federações com mais representantes na Câmara dos Deputados – seja, enfim,  pelos conhecidos debates realizados por esses veículos de comunicação.

Pois bem, o que o legislador pretendeu ao estabelecer a chamada propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão foi garantir aos candidatos oportunidade de apresentar planos, programas, projetos, propostas de solução de problemas sociais, de dizer ao eleitorado, enfim, o que, e como, em verdade pretendem realizar, se eleitos. É poderoso instrumento de convencimento de eleitores, mesmo que bem menor que as “redes”, mas de longo alcance e de grande audiência.

Infelizmente, não é a isso que temos assistido. As inserções e os discursos têm servido para troca do que um dia já foi considerado ofensa, atentatório à moral, até com previsão na legislação penal definido como injúria, calúnia e difamação. Seria cômico, se não fosse trágico, assistir ao que parece  disputa para definição de quem é mais corrupto, mais desonesto, de quem mais se apropriou do dinheiro público, evidentemente que em detrimento da obrigação de buscar meios e modos de realizar o tão desejado bem-estar social.  No último debate televisivo anterior ao primeiro turno –  tirante a parte folclórica que envolveu um representante de igreja que para muitos nem padre era – o “você é ladrão” foi dito e repetido, dedo em riste, por um e por outro lado dos principais contendores, que não se preocupavam em mostrar como pretendem fazer crescer a economia, com oportunidades para micros e médios empresários e para oferta de emprego,  como desenvolver um sistema de saúde que, por exemplo, garanta não faltar oxigênio em hospitais públicos, inclusive em unidades de tratamento intensivo – para que pessoas não  morram à míngua do primário direito de respirar, como se deu nesta tribo –, como tratar da educação com modelo que permita construir um futuro confiável para nossas crianças e para nossos jovens, qualificando professores e preparando as escolas para os avanços tecnológicos deste século, nem mesmo como resolver os gravíssimos e urgentes problemas da fome, do desemprego, da droga, da (in) segurança  e da falta de habitação.

É como se corrupção se tivesse tornado coisa comum, normal, própria ao exercício da função pública, com ou sem malas para guardar ou transportar dinheiro, com patrimônios que se fazem crescentes rápida e misteriosamente, canoas ou “barcos de linha” que se transformam em iates que fariam inveja se  ancorados na Riviera Francesa à vista de todos, parecendo mesmo que o Estado existe para servir aos que a ele juram prestar serviço.

Poucos dias depois do debate, o caseiro do sítio de um amigo perguntou, em nada parecendo inocente,  como eu conseguia explicar que quem vinha acusando de corrupto um ou outro  dos dois candidatos que polarizaram o pleito possa ter passado a apoiar, no segundo turno, justo aquele a quem acusara. Fiquei embaraçado, confesso, e o que me ocorreu foi apenas dizer “são coisas da política, amigo”. E rimos os três um riso amarelo de vítimas.

Não queria que fosse esse o nosso legado!

Lourenço Braga, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

lourencodossantospereirabraga@hotmail.com

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