Visitei na quinta-feira o doutor Ricardo Carvalho, oftalmologista de Manaus, com doutorado em glaucoma, doença havida pela literatura especializada como traiçoeira que, em silêncio, acomete olhos humanos fazendo castigados nervos óticos submetidos a pressão intraocular crescente, podendo levar a lesões irreversíveis com perda parcial e até total da visão.
Felizmente, há recursos tecnológicos modernos que permitem ao profissional da saúde acompanhar com segurança a doença, receitando colírios que, manejados em conformidade com a prescrição correspondente, tendem a proporcionar uma redução da pressão e consequente alívio de tensão sobre o nervo e sobre a perda de células que pode advir. E há também possibilidades cirúrgicas e tratamento com aplicação de raio laser. Mas é preciso ter cautela na utilização desses recursos, seja porque nenhum tem caráter definitivo, seja porque incorporam, à exceção do laser, riscos comuns a toda cirurgia.
É o que me diz o mestre Remo Susanna Júnior, que costumo visitar pelo menos duas vezes por ano, em São Paulo, e que vem de ser aposentado como professor titular da USP, de competência reconhecida aqui e mundo afora. Dedicado profissional, Remo criou a primeira cirurgia específica, que leva seu patronímico e que ao longo dos anos há sido feita para conter os avanços dessa doença que pode levar à cegueira, como deve ter feito, por tempos muitos, antes de a Ciência chegar aos conhecimentos atuais. É ele, também, o criador da “prova hídrica” que busca aproximar-se do conhecimento da pressão ocular do paciente durante o sono, sobretudo da madrugada, por aferição múltipla que se segue à ingestão repetida de água em tempo não superior a cinco minutos.
Tudo isso está em suas obras, herança com que Susanna Júnior marca posição indelével de estudioso e mestre da matéria.
Com isso concordam os Garrido, Cristina e Theodomiro, doutores que, como Ricardo, iniciaram a caminhada nos bancos escolares de nossa UFAM – que também formou Ana Maria, a pediatra de tantos agora adultos e que um câncer levou antes do tempo – que tanto têm feito pela saúde ocular da população, ela dirigindo o Banco de Olhos do Estado, ás em transplante de córnea que tem devolvido a luz a tantos olhos escurecidos por doenças várias, ele perito no tratamento das enfermidades da retina e de outros cantos pequenos do olho humano, a reproduzirem ambos a dedicação e o desvelo que aprenderam com o cardiologista e espiritualista que os trouxe ao mundo e que a tantos ensinou. Assim como os Russo, desde Paulo que abriu o caminho para tantos da família do sapateiro mais ilustre desta gleba.
São anjos que já vestiram branco, da cor da paz, e que vestem azul, anil ou não, verdadeiros agentes da bondade divina para fazer a luz e garantir a visão da beleza dos campos, das árvores, dos bichos, da vida, enfim.
Cristiame Calheiros, oftalmo ali da Bahia de Caymmi, de meu pai Lourenço e de todos os santos, de todas as linhas, de todas as cores, de todos os Orixás, também recomenda cautela para chegar aos procedimentos de maior intervenção, mas como todos os outros que até agora li, ou ouvi, aposta na prevenção e recomenda visitas periódicas ao profissional da área, seja para aferir a eficácia da medicação em uso, seja para evitar sustos sobretudo aos que possuem registros familiares da doença. Calheiros realiza atenção social importantíssima no canal “Glaucoma Sem Mistérios”, disponível nas redes sociais.
De tudo isso falamos Ricardo e eu em tarde de consulta que repetiu encontro igual de 2012. Feliz em saber que é de sua responsabilidade clínica a saúde ocular, dentre tantos, de pessoas reconhecidamente importantes na vida pública daqui, inclusive um ex-aluno a quem tenho dever de gratidão, por meu neto Arthur Gabriel, pelo tempo de minha permanência nestes cantos do mundo, e Gedeão Amorim, ex-secretário de Educação do Estado. Também falamos de Manoel do Carmo Chaves, o nacionalino Maneca de tantos mandatos de deputado estadual e muitas vezes governador em exercício da terra de Ajuricaba.
Ricardo Carvalho, primeiro Coordenador do Curso de Medicina de nossa Universidade do Estado do Amazonas, de que tive o privilégio de ser primeiro reitor, contribuiu sobremaneira, com entusiasmo invulgar, para o êxito daquele projeto que era sonho de Amazonino Mendes, de Robério Braga, meu, de Wilson Alecrim, de Marcos Guerra e de tantos que depositaram o suor de seu esforço para construção e funcionamento da primeira instituição que, assumidamente, trouxe para Manaus alunos do Interior do Amazonas, para quem reservou metade de suas vagas e nos quais investiu para formar profissionais que mudassem, como de fato se deu, o panorama nos 61 municípios que, com Manaus, compõem este Amazonas de tantas belezas naturais e de tanto esquecimento proposital dos que ainda hoje teimam em tentar nos conceder cidadania menor.
Falamos e lamentamos o que se possa ter perdido, mas foi bom voltar no tempo e rever o sonho começando a se fazer vida.