Prefeitura aponta redução da gravidez na adolescência em Manaus e destaca estratégias de prevenção

Foto - Divulgação/Semsa

Mesmo com a prevenção à gravidez na adolescência ainda sendo um desafio em Manaus, o monitoramento do número de gestações em adolescentes aponta um avanço importante com a redução de 53% entre o período de 2015 e 2024. De acordo com dados da Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), o índice é o dobro da redução identificada entre o total de nascimentos em todas as faixas etárias nesse mesmo período, que apresentou redução de 27%.

Entre 1º de janeiro e 6 de outubro de 2025, Manaus registrou 3.242 no total de nascidos vivos de mães com menos de 20 anos. O monitoramento da série histórica integra o trabalho que a Semsa realiza no estabelecimento de estratégias para a prevenção à gravidez na adolescência e a redução da mortalidade materna e infantil.

A chefe do Núcleo de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente da Semsa, Janaína de Sá Terra, explica que o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam como adolescentes pessoas com idade entre 10 e 19 anos.

Nessa faixa etária, a série histórica mostra que, em 2015, houve o registro de 9.238 nascidos vivos de mães menores de 20 anos em Manaus. Em 2024, o número ficou em 4.344, o que representa uma taxa de 14% entre o total de nascidos vivos.

“A redução tem sido contínua a cada ano, indicando melhorias em educação sexual e o acesso aos métodos contraceptivos. Foram 5.167 nascimentos de mães com menos de 20 anos, em 2022, e 4.961, em 2023, caindo para 4.344 no ano passado. A taxa de 14% de gravidez na adolescência coloca Manaus próxima da média nacional e abaixo da média do Amazonas, que é de quase 20%. E existem municípios amazonenses com taxas que chegam a 37%”, aponta Janaína.

Janaína Terra destaca que a redução contínua é importante, mas que a taxa de 14% ainda não é considerada aceitável, principalmente devido aos riscos que a gravidez na adolescência pode gerar para a saúde da mãe e do bebê.

“A gravidez não intencional na adolescência apresenta uma série de riscos por ser uma fase da vida com várias transformações físicas, psicológicas e sociais. O corpo da adolescente não está completamente preparado para uma gestação. O risco é maior ainda em gravidez de adolescentes de 10 a 14 anos”, alerta Janaína Terra.

Entre os riscos, a adolescente pode desenvolver situações como eclâmpsia ou pré-eclâmpsia, com alterações perigosas na pressão arterial; há maior risco de anemia, já que a adolescente também está em fase de crescimento e disputa os nutrientes com o feto. No caso da criança, há o risco de parto prematuro, aborto, baixo peso ao nascer e problemas de desenvolvimento e crescimento.

“A gestante adolescente também tem mais chances de precisar de um parto cesáreo, devido a sua pelve ainda estar em desenvolvimento. É uma cirurgia que muitas vezes salva vidas, mas ainda é um procedimento cirúrgico que traz alguns riscos como em todas as cirurgias. Tem a anestesia, a incisão cirúrgica e a recuperação depois do parto exige muito mais cuidados do que o parto natural”, destaca Janaína.

Além das questões de saúde, a gravidez na adolescência apresenta consequências nos aspectos sociais, o que inclui o abandono escolar, dificuldade na inserção no mercado de trabalho, isolamento social e vulnerabilidade social.

“A adolescente provavelmente terá que abandonar a escola por um tempo. Se voltar para concluir os estudos, retorna com atraso, o que tem como consequência o subemprego, com baixos salários, e reprodução do ciclo de pobreza e vulnerabilidade. Os pais nem sempre aceitam a gravidez da filha e há pesquisas mostrando que 70% das adolescentes são abandonadas totalmente pelo pai da criança”, conta Janaína.

As estratégias de prevenção executadas pela Semsa envolvem as ações do Programa Saúde na Escola (PSE), que tem como um dos eixos de trabalho a Saúde Sexual e Reprodutiva dos Adolescentes. No ano passado, a Semsa também lançou um manual para orientar profissionais de saúde na consulta do adolescente e uma cartilha direcionada aos adolescentes, orientando na prevenção da gravidez não intencional.

Ainda em 2024, a Semsa participou da promoção da “Expo do Cuidado”, em uma exposição interativa com foco na prevenção da gravidez não intencional na adolescência, para estudantes do ensino fundamental 2, que é uma iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

“São estratégias que buscam ir até os adolescentes, com atividades educativas e rodas de conversas, tratando dos seus direitos, da prevenção da gravidez, sobre como identificar e denunciar relacionamentos abusivos, e sobre as escolhas para o futuro”, informa Janaína.

 

Consultas

Os adolescentes têm o direito de se consultar com o profissional de saúde sem o acompanhamento dos pais ou responsáveis, o que é assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Segundo Janaína Terra, essa garantia permite que o adolescente busque unidades de saúde de forma espontânea e facilita no acesso aos serviços.

“O mais importante é que os adolescentes não podem voltar da recepção da unidade de saúde apenas porque chegaram sozinhos para o atendimento. Eles devem ser acolhidos, a demanda escutada e encaminhada de acordo com a necessidade. É uma estratégia importante para estimular a autonomia do adolescente e o profissional pode avaliar a sua capacidade de entendimento no processo de cuidado com a saúde”, explica Janaína Terra.

O sigilo na consulta é garantido, mas Janaína Terra enfatiza que, em algumas situações, é necessário comunicar os pais ou responsáveis, como em casos de gravidez, risco de suicídio ou qualquer situação que coloque a vida do adolescente ou de outra pessoa em risco.

“Nesses casos, o profissional de saúde deve conversar com o adolescente e explicar a necessidade de comunicar aos responsáveis. É importante ressaltar que, segundo o código penal brasileiro, relação sexual com adolescente com menos de 14 anos é violência e deve ser sempre notificada, mesmo quando a relação é consentida”, aponta Janaína.

Nas unidades de saúde, a Semsa também orienta para a utilização de métodos contraceptivos e disponibiliza anticoncepcionais injetáveis e comprimidos, preservativos e oferta a inserção do Dispositivo Intrauterino (DIU).

Segundo Janaína, o Ministério da Saúde aprovou, recentemente, a inserção do implante subdérmico para meninas a partir de 14 anos, processo que está na fase de treinamento dos profissionais de saúde em preparação para o início da oferta no país.

“Será um grande ganho para as adolescentes, por ser um método eficaz e muito indicado para a idade pelo fato de ser de longa duração, não necessitando de lembretes diários ou mensais. Mas a escolha do método contraceptivo deve ser definida a partir da avaliação do profissional e da demanda apresentada pelos adolescentes, em uma decisão conjunta”, conclui Janaína Terra.

 

 

 

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