A FÉ TRAZ O BEM – Por: Lourenço Braga

Nos últimos dez dias do mês que findou, vivi experiência humana que, por tão enriquecedora,  fez-me obrigado a dividir com meus poucos leitores neste espaço generosamente permitido, sem que tenha a pretensão, como necessário, de ser ou parecer piegas por falar do que envolve familiar meu, ainda menor  e que, por isso mesmo, nem me pode autorizar a fazê-lo. Mas o que recolhi nesse tempo é lição que desejo compartilhar para eventuais experiências futuras de cada um e que justifica, só por si, o título que para aqui trouxe.

Fui a Brasília para acompanhar tratamento cirúrgico de um jovem que a todos cativa com gestos e sorrisos que esbanjam  beleza e se ornam de doçura, como os poucos escolhidos que parecem escutar, permanentemente, sons maviosos de harpas celestiais entoando hinos de louvor à Divindade. A paz que transmite, como se superior seja, a todos encoraja e basta para dominar o nervosismo dos adultos que, talvez por fé restrita, dedicam-se a assistir a momentos como esses.

A equipe profissional que o atenderia no centro cirúrgico é formada por especialistas de alto nível, respeitada ali e alhures desde a proclamada competência de quem a dirige, professor muitas vezes convidado para ministrar ensinamentos no Brasil e no exterior, dedicado e de extraordinária capacidade de transmitir segurança a quantos o escutam.

Foi assim que, ao conhecer o nobre doutor Fayez Bahmad Jr.,  consegui dominar um pouco da ansiedade e do medo natural de quem ama e que  me pus a lembrar,  com saudade que não desaparece, de Ana Maria, menina que veio à família depois de mim e que fez da Pediatria caminho permanente de doação a tantas e tantas crianças que dela receberam bem mais que a receita do medicamento, eis que sempre presente carinho quase materno e dedicação extremada. Fayez é assim. Dos que nascem para bem fazer o que fazem e neles a vida se realiza.

Procedimento agendado para o início da manhã de 22 de julho deste ano e  no dia anterior, em companhia de minha filha Juliana, que ali já se encontrava em missão de estudo, fui à indescritivelmente bela igreja de Dom Bosco, cujos vitrais parecem atrair, misteriosamente, luz que vem de além do sol, e ali oramos, em silêncio absoluto, instante de encontro de fé profunda, pedindo ao Pai, cada um à sua maneira e com a força de seu pensamento, que abençoasse e iluminasse todos os que, na manhã que viria, estariam em um centro cirúrgico determinado para cumprirem a santa missão de cuidado com a saúde.

E, ao que depois nos dissemos sob forte emoção, rogamos ambos, sem  qualquer combinação anterior, mas, certamente, porque movidos e abençoados por sentimento igual, que o Senhor de todos os tempos fizesse de cada um dos que trabalhariam no Centro no tempo cirúrgico agentes de Sua suprema bondade, iluminando-lhes a mente e as mãos.

Havia na igreja o silêncio que é de ser exigido e que nos permitia ouvir a brisa lá de fora, mas Juliana e eu, sentados distantes e unidos pela fé, parecíamos escutar, segundo nos dissemos depois, a explosão da crença que brotava de nós em forma de prece. Recolhemos a paz!

Dia seguinte, encontros espirituais que se renovaram no raiar da manhã, a caminho do hospital, conviviam em mim a esperança e o medo que se fazia teimoso, e o tempo em que o trabalho médico-cirúrgico foi realizado parecia não terminar, como se os ponteiros de todos os relógios – os nossos, pelo menos – se houvessem determinado  greve que os fizesse parar.

Descobri que não é de exigir-se, em horas que tais, a imobilidade do sentar, eis que é como se camihar ajudasse a fazer que segundos e minutos se apressem a formar hora nova. Lourenço, o filho, e eu estávamos protegidos pela fé e tudo o que nos dizíamos um ao outro, sob o impacto da espera que parecia prolongar-se a cada cigarro que ele tragava, não era bastante para esconder a ansiedade que nos dominava.

Longas as quatro horas e meia, começadas às 7 da manhã, desse convívio de amor intenso e de fé intensa, até recebermos a informação, feita por Evely, a mãe, verdadeira proclamação, em verdade, de que tudo se dera como esperado. E desejado!

Naquele instante, fez-se um abraço mudo regado por lágrimas que escorriam na face e borbulhavam nos corações e foi como se a presença do Criador, de tão intensa, estivesse a dividir conosco a vitória do Amor. Choramos prantos de alegria, de agradecimento e de louvor, misturamos lágrimas, fé e orações,  e de tão forte o que sentimos não sei dizer o enlevo. E foi o que dividimos com Juliana, que nos banhou de fluido lacrimal de alegria e de devoção.

Decididamente, há versos que, de tão belos, não se consegue declamar. Há poesia que o só silêncio grita.

Dia seguinte, domingo, posterguei, sem menosprezar, convite para almoço porque fomos à Catedral da padroeira do Brasil  dobrar os joelhos para, em preces silenciosas, agradecer. Corações falavam ao pulsar e era o que cada um de nós ouvia no recolhimento espiritual a que nos entregamos. A suntuosidade, a beleza do templo, que penso  não ser possível a nenhum mortal descrever, compunha-se com nossas orações. Ali havia Deus, com a grandeza impossível de ser traduzida e com a luz  da crença na construção do depois.

Acredite, a fé traz o bem!

Lourenço Braga, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

lourencodossantospereirabraga@hotmail.com

 

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