BRASIL – No segundo depoimento ao juiz federal Sergio Moro, realizado nesta quarta (13) em Curitiba, o ex-presidente Lula disse que o Ministério Público criou uma “grande mentira” ao apontá-lo num gráfico feito em PowerPoint que o político era a figura central de uma organização criminosa.
“Eu já disse mais de uma vez para o senhor: eles contaram uma grande mentira com o Power Point. E eu quero ver como eles vão sair dessa”.
Lula foi interrogado sobre o terreno em São Paulo que, segundo procuradores e delatores, foi comprado para a construção do Instituto Lula, mas posteriormente o ex-presidente preferir fazer o prédio em outra área.
Moro disse a Lula que entendia o fato de ele estar rancoroso, mas ponderou que a audiência era a oportunidade que ele tinha para esclarecer as dúvidas dos procuradores. “Eu não estou rancoroso”, rebateu o ex-presidente.
“Eu fico preocupado quando as pessoas inventam uma história e tentam a cada momento transformar a inverdade em verdade.”
Procuradores e delatores dizem que o terreno que não foi usado foi comprado com recursos da Odebrecht. O dono de uma empresa que a Odebrecht usava para repassar propina confirmou à Justiça que fez a compra a pedido da empreiteira.
Lula alfinetou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria arrecadado recursos para fazer o seu instituto enquanto ocupava a Presidência. Ao ser questionado se havia conversado com Emílio Odebrecht sobre o projeto do instituto, ele falou que só teve a ideia do instituto após deixar a Presidência: “Porque se eu fizesse como outros presidentes, teria feito dinheiro enquanto estava na Presidência”.
Lula afirmou que não queria pensar sobre o seu futuro enquanto estivesse na Presidência.
IRRITAÇÃO
Lula demonstrou irritação com a insistência de Moro em questioná-lo sobre o pagamento de aluguel pelo uso do apartamento vizinho ao que mora, em São Bernardo do Campo (SP).
A denúncia do Ministério Público afirma que parte do favorecimento providenciado pela Odebrecht ao ex-presidente foi a compra desse imóvel, o qual, dizem os procuradores, o petista ocupou sem que pagasse aluguel.
O ex-presidente, em meio às perguntas do juiz, passou a fazer ataques ao Ministério Público Federal e lembrou do imbróglio envolvendo a revisão da delação da JBS e o procurador-geral Rodrigo Janot.
“Deus escreve certo por linhas tortas e as coisas estão virando verdadeiras. Estamos vendo o que está acontecendo com o Janot, o que está acontecendo com o [ex-procurador] Marcello Miller. E a força-tarefa da Lava Jato aqui em Brasília está tratando de forma a destruir o Ministério Público contando inverdades. Eles inventaram que o tríplex era meu.”
A exemplo do que aconteceu no primeiro depoimento como réu a Moro, em maio, Lula voltou a atribuir decisões de seu patrimônio à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que também era acusada no processo e que morreu em fevereiro. Disse que, como viajava muito, foi Marisa quem tratou de negociar o pagamento de aluguel do apartamento vizinho, em 2011.
“Fiquei perto de 30 anos sem assinar um cheque na minha vida porque, primeiro, a dona Marisa era muito séria no trato com dinheiro. Era muito econômica, nunca tive medo de deixar um cartão de crédito com ela porque eu tinha consciência de que a dona Marisa não gastaria nada que não fosse essencial. E a dona Marisa ficou com a responsabilidade de fazer o contrato e acertar.”
Lula disse que pode ainda providenciar comprovantes de pagamento dos aluguéis. Moro demonstrou estranhamento com a afirmação e disse que o ex-presidente poderia ter encaminhado esses documentos desde o fim do ano passado, quando o processo foi aberto.
O petista, então, respondeu que só ficou sabendo sobre essa suspeita após o depoimento do proprietário do imóvel, Glaucos da Costamarques, que foi ouvido na semana passada e também é réu no processo.